sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Povo Guarani- Canto e Dança para a Vida


Para quem é de fora, talvez tudo pareça igual, uma repetição das mesmas palavras e frases sem fim. Como aguentam? Será que entram numa forma de êxtase? No Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, os Guarani cantam e dançam por horas e até por dias seguidos.
Cantar na própria língua dá aos Guarani força espiritual e corporal que ajuda na manutenção da comunicação com as divindades. Sem dançar e cantar, a vida do Guarani neste mundo estaria em risco. Como os deuses tocam seus instrumentos para fazer existir a Terra, os seres humanos também devem acompanhar. Todos fazem parte da mesma orquestra.
O primeiro canto sagrado foi entoado pela deusa dos Guarani Ñande Jarí (nossa avó). Com isso ela salvou a terra de perdição, porque Ñande Ramõi Jusu Papa (Nosso Grande Avô Eterno) que criou a Terra, quase chegou a destruir sua própria criação por um desentendimento com a mulher. Ele estava com profunda raiva, por ciúmes dos homens ocupando a terra. Mas ele foi sendo impedido por Ñande Jari com a entoação do primeiro canto sagrado realizado sobre a Terra, tomando como acompanhamento o takuapu: instrumento feminino, feito de taquara, com aproximadamente 1,10m, que é golpeado no solo produzindo um som surdo que acompanha o mbaraka masculino, espécie de chocalho de cabaça e sementes específicas.
O povo Guarani é muito religioso e conhece muitas atividades religiosas. Dependendo da situação e das circunstâncias (falta ou excesso de chuva, durante a coleta etc), os rituais são realizados cotidianamente, na maioria das vezes ao início da noite. Os ñanderu, lideranças religiosas, conduzem esses rituais. O ñanderu começa cantar o ´canto grande´, um texto que ninguém pode interromper. A comunidade repete cada frase, acompanhada pelo takuapu e mbaraka.
As letras e, principalmente, os instrumentos têm o papel de chamar os deuses. Os deuses respondem com o envio de seus mensageiros (tembiguáis kuéra), que vêm assistir aos cantos e às danças e retornam para informar que os habitantes da Terra estão alegres. Quando tem relâmpago e trovão durante os rituais, é um sinal que os mensageiros estão presentes.
A maneira como os Guarani cantam também tem significado especial. Os sons graves são próximos à terra, os sons de agudos estariam longe dela. As meninas têm que cantar forte e agudo, todas juntas, em coro, afinadas. Isso faz o coração contente.
Existe um mito Guarani no qual a diferença entre índios e não-indios é explicada. O herói criador deu para os índios o mbaraka e para os não-índios ele escolheu o kuatia jehairä (papel para escrever). Com estas escolhas o criador já explicou a diferença: o mundo sonoro e musical e o mundo da palavra escrita.





A gravação deste álbum reuniu 300 crianças e músicos de dez aldeias guarani e de uma aldeia tupi-guarani dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro para registrar quatro modalidades da música guarani: acalantos, cantos religiosos infantis, duetos de flautas de bambu e temas da Dança do Tangará ou Kunhã Jerokya, executados com violão ou rabeca. O disco faz parte de um movimento cultural iniciado pelas aldeias Tenondé Porã, Boa Vista, Ribeirão Silveira e Sapukai, que estimula a realização dos corais infantis em várias aldeias guarani do Sul e Sudeste do país, as composições de novos cânticos e a recuperação de antigas modalidades musicais. O CD foi gravado entre 1999 e 2002 em estúdios móveis instalados nas Opy (casas de reza) das aldeias Tenondé Porã, Ribeirão Silveira e Krukutu

Ritual guarani Xondaro

Os índios guaranis possuem uma interessante técnica de luta desconhecida pela maioria dos brasileiros, até mesmo pelos adeptos das artes marciais. Ela se denomina Xondaro (pronuncia-se xondáro) e curiosamente lembra aspectos das práticas orientais, como a ênfase no equilíbrio, gestos baseados nos movimentos de animais e a atitude de “desviar-se” — preferindo não se contrapor ao oponente, deixando-o gastar suas energias.

A técnica propicia uma eficiência tal que, segundo os guaranis, os antigos guerreiros Xondaro conseguiam agarrar flechas em pleno vôo. Assim como a capoeira, que pode exercer a função de luta ou de dança — conforme as circunstâncias —, a Xondaro também possui um papel múltiplo. Luta, dança e canto. Porém, como música e dança, a Xondaro está totalmente integrada às experiências religiosas xamânicas, aparentemente não sendo exercitada isoladamente como folguedo.

GUARDIÕES DA ALDEIA

O guarani Timóteo Verá Popyguá prestou um depoimento sobre o assunto, em 1998, que foi incluído no CD Memória Viva Guarani (Ñande Reko Arandu).

Contou ele que os guaranis são iniciados na Xondaro — que ora ele identifica como dança e ora como exercício guerreiro — desde pequenos. E que o objetivo é desenvolver o equilíbrio do corpo e a saúde.

Explicou que o principal treinamento “hoje em dia” envolve o ato de desviar-se (Obs: não esclareceu se antigamente o método centrava-se em outro ato). A antropóloga Deise Lucy Montardo pôde assistir a alguns desses treinos nas aldeias que visitou para elaborar sua tese de pós-graduação na USP, Através do mbaraka: música e xamanismo guarani.“No ritual observa-se um comportamento que remete, de nosso ponto de vista, à noção de artes marciais. Um dos treinamentos mais significativos efetuados nos rituais guaranis é o aprender a ‘desviar-se’ em danças/lutas. O comportamento de não se contrapor, característico dos Guarani, é trabalhado corporalmente”, relatou ela.

Popyguá falou também da grande utilidade e eficiência da técnica no que se refere ao aprimoramento dos sentidos, da agilidade, do senso de direção — extremamente necessários para a vida na mata. Disse que o reflexo do guerreiro possibilitava a ele agarrar flechas no ar. Referiu-se também ao fato de que os praticantes da Xondaro são guardiões das aldeias e também dos rituais xamânicos, agindo como uma espécie de soldados da chamada casa de reza, bem como assistentes dos pajés.

A seguir, um resumo do depoimento:
(...) O menino começa a dançar, começa a frequentar esta dança. Ele tem seu próprio equilíbrio no seu próprio corpo. Xondaro, hoje em dia, a gente pratica mais para desviar, para dançar, para ter equilíbrio e para ter saúde. A prática do Xondaro é comum entre os guaranis.

(...) Xondaro é preparado para ser guerreiro. Tem certos ensinamentos. Eles ensinam com borduna, com arco e flecha. Na época, o guarani usava arco e flecha, ele atirava numa pessoa. E a pessoa, se fosse Xondaro, pegava aquela flecha, com o reflexo. Então, tudo isto eles ensinavam dentro do Xondaro. Principalmente para você sair para caçar, para o mato, para eles não se perderem, como é que ele tem que andar, como é que ele tem de retornar. (...) Tudo isto tem cada sentido. E o mestre Xondaro explica porque.

(...) Os Xondaro da casa de reza (opy) são guardiões. Este é o Xondaro ocayguá. (...) Tem Xondaro na porta da casa de reza, do lado de fora e do lado de dentro. Também acompanha o pajé quando ele vai benzer uma pessoa doente.

Tem outro Xondaro que é o Xondaro da aldeia mesmo. Antigamente a gente falava Xondaro ovay. A pessoa que pode guerrear no momento de ataque. O Xondaro da casa de reza não vai sair por aí guerreando. Aquele Xondaro da comunidade, sim, vai. Sempre tinha esta função. Não hoje.
Rosana Bond
http://www.anovademocracia.com.br/no-17/864-xondaro-a-arte-marcial-dos-guaranis





O Xondaro, foi apresentado  pela primeira vez fora da aldeia em janeiro de 2013 no Museu do Índio,  é uma mistura de luta, dança e canto. Entre os objetivos do ritual está o de desenvolver o equilíbrio e a saúde do corpo. Os Guarani saudaram o ano de 2013, mostrando a sua força e vitalidade espirituais.



O evento Xondaro marcou o início das comemorações de                             aniversário do Museu do Índio, que completa 60 anos este ano.






quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O que é Terra Indígena

"Para os povos indígenas, a terra é muito mais do que simples meio de subsistência. Ela representa o suporte da vida social e está diretamente ligada ao sistema de crenças e conhecimento. Não é apenas um recurso natural - e tão importante quanto este - é um recurso sócio-cultural" (RAMOS, Alcida Rita - Sociedades Indígenas).

Vale lembrar que o reconhecimento dos índios enquanto realidades sociais diferenciadas, na Constituição Federal, não pode estar dissociado da questão territorial, dado o papel relevante da terra para a reprodução econômica, ambiental, física e cultural destes.

Tanto assim que o texto constitucional trata de forma destacada este tema, apresentando, no parágrafo 1º do artigo 231, o conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, definidas como sendo: aquelas "por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições". Terras que, segundo o inciso XI do artigo 20 da CF, "são bens da União" e que, pelo §4º do art. 231, são "inalienáveis e indisponíveis e os direitos sobre elas imprescritíveis".

Embora os índios detenham a posse permanente e o "usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos" existentes em suas terras, conforme o parágrafo 2º do Art. 231 da Constituição, elas constituem patrimônio da União. E, como bens públicos de uso especial, as terras indígenas, além de inalienáveis e indisponíveis, não podem ser objeto de utilização de qualquer espécie por outros que não os próprios índios.
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                                                     http://jaruweb.wordpress.com/

Índios isolados

Alguns povos indígenas, desde a época do Descobrimento, mantiveram-se afastados de todas as transformações ocorridas no País. Eles mantêm as tradições culturais de seus antepassados e sobrevivem da caça, pesca, coleta e agricultura incipiente, isolados do convívio com a sociedade nacional e com outros grupos indígenas.
Os índios isolados defendem bravamente seu território e, quando não podem mais sustentar o enfrentamento com os invasores de seus domínios, recuam para regiões mais distantes, na esperança de lograrem sobreviver escondendo-se para sempre.
Pouca ou nenhuma informação se tem sobre eles e, por isso, sua língua é desconhecida. Entretanto, sabe-se que alguns fatores são fundamentais para possibilitar a existência futura desses grupos. Entre eles, a demarcação das terras onde vivem e a proteção ao meio ambiente, de forma a garantir sua sobrevivência física e cultural.
No processo de ocupação dos espaços amazônicos, o conhecimento e o dimensionamento das regiões habitadas por índios isolados são fundamentais para que se possa evitar o confronto e a destruição desses grupos.
A Funai atua na proteção e identificação de índios isolados por meio da sua Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) e de 12 Frentes de Proteção Etnoambiental, que estão localizadas nos estados do Mato Grosso (2), Maranhão (1), Pará (2), Amazonas (3), Acre (1), Rondônia (2), e Roraima (1).
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FUNAI tenta manter sobrevivência de índios Kawahiva que vivem isolados na floresta Amazônica

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

As línguas indígenas





foto Museu do Índio/X'mayá Kaká Fulni-ô

A língua é o meio básico de organização da experiência e do conhecimento humanos. Quando falamos em língua, falamos também da cultura e da história de um povo. Por meio da língua, podemos conhecer todo um universo cultural, ou seja, o conjunto de respostas que um povo dá às experiências por ele vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo.
Há várias maneiras de se classificar as línguas. Os lingüistas atuais consideram como mais apropriada a classificação do tipo genético. Eles só recorrem a outros tipos de classificação quando não há dados suficientes para realizar a classificação por meio do critério genético.
Na classificação genética, reúnem-se numa mesma classe as línguas que tenham tido origem comum numa outra língua mais antiga, já extinta. Desta forma, as línguas faladas pelos diversos povos da Terra são agrupadas em famílias lingüísticas, e estas famílias são reunidas em troncos lingüísticos, sempre buscando a origem comum numa língua anterior.
Embora o português seja a língua oficial no Brasil, deve haver por volta de outras 200 línguas faladas regularmente por segmentos da população. Um exemplo são os descendentes de imigrantes italianos, japoneses etc., que em determinados contextos falam a língua materna.
Ainda hoje, muitos índios falam unicamente sua língua, desconhecendo o português. Outros tantos falam o português como sua segunda língua. O lingüista brasileiro Aryon Dall'Igna Rodrigues estabeleceu uma classificação das línguas indígenas faladas no Brasil, sendo esta a mais utilizada pela comunidade científica que se dedica aos estudos pertinentes às populações indígenas.
As línguas são agrupadas em famílias, classificadas como pertencentes aos troncos Tupi, Macro-Jê e Aruak. Há Famílias, entretanto, que não puderam ser identificadas como relacionadas a nenhum destes troncos. São elas: Karib, Pano, Maku, Yanoama, Mura, Tukano, Katukina, Txapakura, Nambikwara e Guaikuru.
Além disso, outras línguas não puderam ser classificadas pelos lingüistas dentro de nenhuma família, permanecendo não-classificadas ou isoladas, como a língua falada pelos Tükúna, a língua dos Trumái, a dos Irântxe etc.
Ainda existem as línguas que se subdividem em diferentes dialetos, como, por exemplo, os falados pelos Krikatí, Ramkokamekrá (Canela), Apinayé, Krahó, Gavião (do Pará), Pükobyê e Apaniekrá (Canela), que são, todos, dialetos diferentes da língua Timbira.
Há sociedades indígenas que, por viverem em contato com a sociedade brasileira há muito tempo, acabaram por perder sua língua original e por falar somente o português. De algumas dessas línguas não mais faladas ficaram registros de grupos de vocábulos e informações esparsas, que nem sempre permitem aos lingüistas suficiente conhecimento para classificá-las em alguma família. De algumas outras línguas, não ficaram nem resquícios.
Estima-se que cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes eram faladas no Brasil há 500 anos. Hoje são 180, número que exclui aquelas faladas pelos índios isolados, uma vez que eles não estão em contato com a sociedade brasileira e suas línguas ainda não puderam ser estudadas e conhecidas.
Ressalte-se que o fato de duas sociedades indígenas falarem línguas pertencentes a uma mesma família não faz com que seus membros consigam entender-se mutuamente. Um exemplo disso se dá entre o português e o francês: ambas são línguas românicas ou neolatinas, mas os falantes das duas línguas não se entendem, apesar das muitas semelhanças lingüísticas existentes entre ambas.
É importante lembrar que o desaparecimento de tantas línguas representa uma enorme perda para a humanidade, pois cada uma delas expressa todo um universo cultural, uma vasta gama de conhecimentos, uma forma única de se encarar a vida e o mundo.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sons Indígenas


O Cântico das Crianças

O Guarani sempre teve um cântico. Geralmente um cântico que fala da cultura, da religião, da travessia da Terra Sem Male. Também fala dos pássaros. Esses cânticos representam para nós o cântico da paz. No casamento, tinha esse cântico das crianças. E, quando as crianças nascem, também tem o cântico.

Tudo tem significado para o guarani. Por exemplo, o cântico da criança. Amanhecendo o dia, todas as crianças cantavam estes cânticos tradicionais que estão no CD. Os mais velhos ensinavam as crianças a cantar e explicavam qual é a importância, qual o significado daquele cântico.

Por exemplo, dos pássaros. Deus pôs cada um no seu lugar. Os pássaros são aves, são seres animais. Os pássaros não falam, mas têm o mesmo sentimento do ser humano. Eles têm chefe dos pássaros dentro da mata. Eles são como nós. Nós temos o pajé que é chefe espiritual dentro da nossa cultura. Os pássaros também têm.

Deus fez os seres humanos. Só que cada um diferente um do outro. Principalmente a língua. No Brasil nós temos cento e oitenta nações indígenas. Cada um tem etnia, fala sua própria língua, mesmo sendo índio. Então, cada um, cada etnia é um universo. Assim diz nossa religião. Cada tradição, cada costume, seja dos guarani ou de outros povos, seja dos brancos, ela tem valor. Porque Deus criou para cada nação, para cada etnia, para cada povo, para cada país. Estão ali. Cada costume que a gente tem é uma riqueza que a gente tem. Dá força de Deus.

Nós temos nos preocupado não em resgatar, mas em preservar a nossa cultura. Que a gente tem e mantém. Mesmo sofrendo muita pressão. 
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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Índios e quilombolas de Oriximiná se reúnem com presidenta da Funai



Foto: Mário Vilela / Funa


A presidenta da Funai, Maria Augusta Assirati, se reuniu na última terça-feira (19), com lideranças indígenas Kaxuyana e Tunayana e quilombolas da Associação Rural de Quilombos do Município de Oriximiná – ARQMO para tratar de questões relativas a demarcação de terra.

Na oportunidade, a presidenta da Funai fez esclarecimentos sobre o processo de demarcação da Terra Indígena Kaxuyana e Tunayana, informando que o processo está sendo analisado pela Presidência para aprovação e publicação do relatório circunstanciado de identificação e delimitação.

Os quilombolas presentes na reunião reforçaram as relações históricas entre eles e os povos indígenas. Para Domingos Printes, da ARQMO o direito dos quilombolas deve ser reconhecido, "a gente conviveu junto durante anos, e os quilombolas viveram no meio dos índios. Meu avô conheceu o avô do Juventino. Então a gente acha que tem que demarcar a Terra Indígena e reconhecer os direitos dos quilombolas".

Destacando essa antiga aliança, os indígenas e quilombolas reivindicaram a regularização fundiária de seus territórios, destacando que a demora na aprovação e publicação do relatório de identificação e delimitação da Terra Indígena Kaxuyana e Tunayana poderia causar conflitos na região.

Estiveram presentes Juventino Pesirima Kaxuyana, João do Vale Pekiriruwa Kaxuyana, Francisco Hugo de Souza (ARQMO), Domingos Printes (ARQMO), Aluísio Silverio dos Santos (ARQMO), além de representantes das organizações não governamentais Luisa Girardi (Iepé) e Lúcia Andrade (CPI-SP).

Os Povos Indígenas da Bacia do Trombetas 

A Bacia do Trombetas é habitada imemorial e permanentemente por diversos povos indígenas, como os Kahyana, Kaxuyana, Hixkaryana, Tiriyó, Txikiyana, Tunayana, Xerew, Waiwai, Zo’é e grupos isolados. Com uma população estimada em 3.400 pessoas, estes povos ocupam quatro Terras Indígenas, sendo três delas homologadas (TI Nhamundá-Mapuera, TI Trombetas-Mapuera e TI Zo’é) e uma em processo de regularização (TI Kaxuyana-Tunayana).

Estes povos indígenas costumavam viver em aldeias dispersas por diferentes tributários da Bacia do Trombetas até meados da década de 1950/1960, época em que centralizaram-se em torno de destacamentos militares, missões religiosas e postos de assistência, estabelecidos nas proximidades das fronteiras entre o Brasil (Kassawá, Mapuera e Missão Tiriyó), a Guiana (Kanashen) e o Suriname (Kwamalá). Entre o final da década de 1990 e o ínicio da década de 2000, estes povos iniciaram seu regresso à sua região de origem, não raro abrindo novas aldeias em locais onde existiam aldeias antigas.

A Terra Indígena Kaxuyana-Tunayana 

No processo de reocupação de sua região de tradicional habitação, os índios fundaram dezesseis novas aldeias, cuja estimativa populacional é de 500 pessoas. São elas: Ayaramã, Turuna e Wisina (Kaspakuru), no alto rio Trombetas; Santidade e Chapéu, no médio rio Cachorro; Takará,Mapium, Yawará e Tawanã, Paraíso no baixo rio Mapuera; e Matrinxã, Gavião, Torre, Areia, Cupiúba e Belontra, no Nhamundá.

A demanda indígena pela regularização fundiária de sua região de ocupação tradicional remonta ao início dos anos 2000. Embora a reivindicação tenha sido formalizada junto à Coordenação de Identificação e Delimitação (CGID) da FUNAI em 2005, a primeira solicitação relacionada à regularização foi encaminhada à Coordenação Regional deste órgão em meados de 2003. Em atenção a esta demanda, a FUNAI constituiu dois Grupos Técnicos para subsidiar os estudos do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID): o primeiro, em 2008 e, o segundo, em 2010. O estudo, tecnicamente aprovado em abril deste ano, está à espera de assinatura pela Presidência da FUNAI e publicação no Diário Oficial da União (DOU).

As áreas de ocupação tradicional dos índios da TI Kaxuyana-Tunayana (inclusive habitação permanente e perambulação de índios isolados) estão, em parte, sobrepostas à área pleiteada pela comunidade de remanescentes de quilombo de Cachoeira Porteira. Esta comunidade reivindicou a regularização fundiária do Território Quilombola (TQ) no ano de 2004 – época em que o processo de titulação (Processo de 2004/125212) foi instaurado pelo Instituto de Terras do Pará (ITERPA). Não obstante, o processo foi protelado pela instituição da Floresta Estadual (Flota) do Trombetas, decretada numa área de 3.172.978 ha pelo Governo do Estado do Pará (Decreto 2607, de 04/12/2006). A regularização fundiária do TQ foi retomada em 2012, após intervenção do Ministério Público Federal que, com atenção a uma recomendação da FUNAI, exigiu a identificação do TQ de Cachoeira Porteira. O resumo do relatório quilombola foi publicado nessa mesma época, incluindo cinco aldeias indígenas no interior do polígono proposto. Nesse contexto, a publicação do RCID da TI Kaxuyana-Tunayana faz-se imprescindível, bem como a agilização da regularização do TQ de Cachoeira Porteira.


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publicado em 25 de novembro de 2013

Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas

O Museu do Índio (RJ) coordena, desde 2009, um esforço nacional de registro e documentação para proteger, reforçar e revitalizar as muitas línguas e culturas indígenas existentes no território brasileiro. O trabalho é divido em quatro áreas de atuação – Prodoclin, Prodocult, Prodocerv e Prodocson – e desenvolvido em conjunto com o Instituto Max Planck, da Holanda, e várias universidades e centros de pesquisa do País, com o apoio da Fundação Banco do Brasil e da Unesco.

Culturas

ProDocult
Saberes tradicionais, mitos, rituais, dimensões simbólicas e estéticas, expressões linguísticas e modos de fazer associados a aspectos específicos de cada cultura são os temas pesquisados e documentados nos Projetos de Documentação de Culturas desenvolvidos em parceria com 23 povos indígenas.

 Línguas

ProDoclin
Treze equipes do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas atuam em 54 aldeias, de terras indígenas situadas no Acre, Amazonas, Mato Grosso, Minas Gerais, Rondônia e Roraima, beneficiando cerca de 13 mil pessoas, direta ou indiretamente.

Acervos

logomarca prodocervO Museu do índio, a partir de 2009, recebeu de pesquisadores 22 coleções que reúnem 27.494 documentos audiovisuais, cartográficos, textuais e/ou etnográficos, coletados desde a década de 1940 até o final do século XX. No âmbito do PROGDOC, todo esse material é tratado e disponibilizado para os povos indígenas. Conheça mais sobre as coleções que compõem os acervos do Museu do Índio nos links abaixo.
Novos acervos doados ao Museu do Índio

prodoc acervo grafico novos acervos doados













22 coleções de documentos audiovisuais, cartográficas, textuais, etnográficos coletados por pesquisadores desde a década de 1940 até o final do séc. XX.

Sonoridades

logomarca prodocson"O Trabalho da Memória Através Dos Cantos” é um projeto-piloto de registro e documentação dos corpora acústico-musicais de povos ameríndios no Brasil. É desenvolvido junto às etnias Tikmũ'ũn/Maxakali (MT), Enawene Nawe (MT), Baniwa (AM), Krahô (TO) e Mbyá-Guarani (RS). O projeto  é realizado nas Terras Indígenas dessas populações, bem como, no Museu do Índio(RJ), utilizando  três eixos de trabalho: a documentação do patrimônio imaterial, a  troca de conhecimento entre povos vizinhos e a capacitação jovens das aldeias na utilização de ferramentas audiovisuais, gráficas e arquivísticas.  


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Há 500 anos

Há cinco séculos, os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando início a um processo de migração que se estenderia até o início do século XX, e paulatinamente foram estabelecendo-se nas terras que eram ocupadas pelos povos indígenas.
O processo de colonização levou à extinção muitas sociedades indígenas que viviam no território dominado, seja pela ação das armas, seja em decorrência do contágio por doenças trazidas dos países distantes, ou, ainda, pela aplicação de políticas visando à "assimilação" dos índios à nova sociedade implantada, com forte influência européia.
Embora não se saiba exatamente quantas sociedades indígenas existiam no Brasil à época da chegada dos europeus, há estimativas sobre o número de habitantes nativos naquele tempo, que variam de 1 a 10 milhões de indivíduos.
Números que servem para dar uma idéia da imensa quantidade de pessoas e sociedades indígenas inteiras exterminadas ao longo desses 500 anos, como resultado de um processo de colonização baseado no uso da força, por meio das guerras e da política de assimilação.


A origem dos povos americanos

Os habitantes do continente americano descendem de populações advindas da Ásia, sendo que os vestígios mais antigos de sua presença na América, obtidos por meio de estudos arqueológicos, datam de 11 a 12,5 mil anos. Todavia, ainda não se chegou a um consenso acerca do período em que teria havido a primeira leva migratória.
Os povos indígenas que hoje vivem na América do Sul são originários de povos caçadores que aqui se instalaram, vindo da América do Norte através do istmo do Panamá, e que ocuparam virtualmente toda a extensão do continente há milhares de anos. De lá para cá, estas populações desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos recursos naturais e formas de organização social distintas entre si.
Não existe consenso também, entre os arqueólogos, sobre a antiguidade da ocupação humana na América do Sul. Até há alguns anos, o ponto de vista mais aceito sobre este assunto era o de que os primeiros habitantes do continente sul-americano teriam chegado há pouco mais de 11 mil anos.
No Brasil, a presença humana está documentada no período situado entre 11 e 12 mil anos atrás. Mas novas evidências têm sido encontradas na Bahia e no Piauí que comprovariam ser mais antiga esta ocupação, com o que muitos arqueólogos não concordam. Assim, há uma tendência cada vez maior de os pesquisadores reverem essas datas, já que pesquisas recentes vêm indicando datações muito mais antigas.


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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Mitos e Verdades. História dos Índios Karajá no Tocantins.


As comunidades indígenas assim como todas as comunidades, têm suas histórias tradicionais, seus métodos culturais que algumas vezes perpassam as explicações ciêntificas, assim  como a sociedade tem suas religiões, seus métodos culturais e costumes diferenciados em cada parte do planeta, muitas vezes estranhos a nós por ser diferentes, neste espaço você poderá viajar no mundo da diversidade indígena brasileira, descobrindo suas histórias e seus métodos culturais.



                                                        A Origem do Povo Karajá


Avanilson Karajá, capturando tartaruga com a mão.

Contam os anciões do Povo Karajá que se encontra em aldeias no Tocantins, Goiás e Mato Grosso, que há muitos séculos atrás, todos os Karajá viviam felizes no fundo do rio Araguaia, então certo dia um deles chamou um grupo de jovens e decidiram sair ao ver a luz fora da água, para conhecerem o que havia além, em seguida outro Karajá chamado Koboy que era gordo tentou sair e ao sair só pela metade se deparou com árvores secas e viu que nem tudo era bonito então retornou ao fundo do rio e permanece lá até hoje.
 O grupo de jovens que haviam saído acharam a terra bonita, mais tentaram voltar ao fundo do rio, pois lá não havia nada de ruim tudo era bom e bonito, mais não conseguiram, assim se fixaram nas margens dos rios na esperança de que um dia retornem a suas origem.
 O povo Karajá é conhecido como o povo das águas devido a forte ligação que tem com os rios e lagos.


Video contendo essa história e uma breve descrição do Povo índígena Karajá. Amaré Gonçalves Krahô-Kanela e Avanilson Karajá.



  Categoria: Mitos e Verdades
Por: Amaré Brito

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

AJUDANDO O PROFESSOR

As escolas são os principais bancos de aprendizagens do Brasil. Mas pelo que se percebe é que o desrespeito a diferença cultural ainda é o grade abismo, principalmente quando se trata da questão indígena.
Até os dias ainda é comum, encontrar nas literaturas, nas escolas, na historiografia do Brasil, e em muitos outros casos, a figura do índio estereotipado e genérico, esquecendo-os das várias etnias que compões esse povo, e das mais diversas formas de vida deles. Em muito outros casos, a mesma figura é tida como algo exótico, onde seus artefatos tradicionais servem apenas para enfeite, assim como também como um ser atrasado, que é contra o progresso e outras ações de empresas multinacionais e até meso do Governo Brasileiro.
Mesmo com a Lei 11.645 de 2008, as escolas e outras instituições de ensino na maioria negam a grande diversidade cultural e lingüística dos mais de 215 povos indígenas que vivem hoje no Brasil. Embora essa mesma lei tornasse obrigatório o ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e indígena”, nos currículos das redes de ensino, que materiais os professores tem para subsidiar essa temática?
Além dos poucos conteúdos citados nos livros que chegam a escolas, onde mais os professores podem recorrer para que possa se cumprir essa lei? Isso se torna uma pergunta vaga, pois se os livros não trazem essa temática o único meio é corre a internet, e tentar empurrar goela abaixo essa temática. Nesse modo os professores, principalmente do ensino fundamental tentam o máximo para colocar isso de uma forma ou de outra, caindo no erro repetino de sempre, que acaba sendo o mesmo todo ano: Faça uma pesquisa sobre os povos indígenas.
Para finalizar vamos refletir sobre a mesma lei e acreditar que pode ser possível, mas que ela só vai passar a vigorar no momento em que os livros tratarem à temática como se um assunto do livro didático e não um assunto para o livro didático. Como também, os profissionais que trabalham com a classe de alunos, estiverem preparados para tratar essa questão de forma igualitária a outras temáticas.

  Categoria: Ajudando o Professor
Por: Alex Makuxi

O que (não) fazer no Dia do Índio

O Dia do Índio é comemorado em 19 de abril no Brasil para lembrar a data histórica de 1940, quando se deu o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. O evento quase fracassou nos dias de abertura, mas teve sucesso no dia 19, assim que as lideranças indígenas deixaram a desconfiança e o medo de lado e apareceram para discutir seus direitos, em um encontro marcante.
Por ocasião da data, é comum encontrar nas escolas comemorações com fantasias, crianças pintadas, música e atividades culturais. No entanto, especialistas questionam a maneira como algumas dessas práticas são conduzidas e afirmam que, além de reproduzir antigos preconceitos e estereótipos, não geram aprendizagem alguma. “O índigena trabalhado em sala de aula hoje é, muitas vezes, aquele indígena de 1500 e parece que ele só se mantém índio se permanecer daquele modo. É preciso mostrar que o índio é contemporâneo e tem os mesmos direitos que muitos de nós, ‘brancos’”, diz a coordenadora de Educação Indígena no Acre, Maria do Socorro de Oliveira.
Saiba o que fazer e o que não fazer no Dia do Índio:
1. Não use o Dia do Índio para mitificar a figura do indígena, com atividades que incluam vestir as crianças com cocares ou pintá-las.
Faça uma discussão sobre a cultura indígena usando fotos, vídeos, música e a vasta literatura de contos indígenas. “Ser índio não é estar nu ou pintado, não é algo que se veste. A cultura indígena faz parte da essência da pessoa. Não se deixa de ser índio por viver na sociedade contemporânea”, explica a antropóloga Majoí Gongora, do Instituto Socioambiental.
2. Não reproduza preconceitos em sala de aula, mostrando o indígena como um ser à parte da sociedade ocidental, que anda nu pela mata e vive da caça de animais selvagens
Mostre aos alunos que os povos indígenas não vivem mais como em 1500. Hoje, muitos têm acesso à tecnologia, à universidade e a tudo o que a cidade proporciona. Nem por isso deixam de ser indígenas e de preservar a cultura e os costumes.
3. Não represente o índio com uma gravura de livro, ou um tupinambá do século 14
Sempre recorra a exemplos reais e explique qual é a etnia, a língua falada, o local e os costumes. Explique que o Brasil tem cerca de 230 povos indígenas, que falam cerca de 180 línguas. Cada etnia tem sua identidade, rituais, modo de vestir e de se organizar. Não se prenda a uma etnia. Fale, por exemplo, dos Ashinkas, que têm ligação com o império Inca; dos povos não-contatados e dos Pankararu, que vivem na Zona Sul de São Paulo.
4. Não faça do 19 de abril o único dia do índio na escola
A Lei 11.645/08 inclui a cultura indígena no currículo escolar brasileiro. Por que não incluir no planejamento de História, de Língua Portuguesa e de Geografia discussões e atividades sobre a cultura indígena, ao longo do ano todo? Procure material de referência e elabore aulas que proponham uma discussão sobre cultura indígena ou sobre elementos que a emprestou à nossa vida, seja na língua, na alimentação, na arte ou na medicina.
5. Não tente reproduzir as casas e aldeias de maneira simplificada, com maquetes de ocas
“Oca” é uma palavra tupi, que não se aplica a outros povos. O formato de cada habitação varia de acordo com a etnia e diz respeito ao seu modo de organização social. Prefira mostrar fotos ou vídeos.
6. Não utilize a figura do índio só para discussões sobre como o homem branco influencia suas vidas
Debata sobre o que podemos aprender com esses povos. Em relação à sustentabilidade, por exemplo, como poderíamos aprender a nos sentir parte da terra e a cuidar melhor dela, tal como fazem e valorizam as sociedades indígenas?

Matéria veiculada no ano de 20102, na semana do povos indígenas, mas é valido para todo ano.
   Categoria: Ajudando o Professor
Por: Marina Cândido Marcos

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PINTURAS CORPORAIS INDÍGENAS

Em nosso país nós indígenas estamos presentes em diversos lugares com muitas características iguais, mas cada um com sua história e cultura diferente, essa é a nossa maior riqueza.
Dentre as diversas formas de mostrarmos nossa cultura, uma muito predominante é a pintura corporal. Sempre estamos pintados e, talvez por isso, as pinturas corporais sejam nossos traços culturais mais conhecidos. Mas, você sabe como nossa tinta é feita? O que ela significa?
As nossas tintas para as pinturas tradicionais são feitas das mais diversas formas. A mais conhecida é preparada através do jenipapo (fruta muito apreciada pelos povos indígenas). Ele é retirado verde e seu líquido é extraído, em contato com a pele se transforma em uma tinta preta que se fixa na pele por até duas semanas. É interessante lembrar que essa tinta não sai sem que se passe no mínimo uma semana. Existem etnias que usam a semente de Urucum que solta uma tinta vermelha na pele, há etnias que usam barro e também outras formas de tinta especificas para as pinturas corporais que as vezes são feitas de uma forma especifica para cada grupo, por exemplo a pintura usada nas crianças são diferentes das usadas por adultos, ou ainda etnias que os homens têm uma pintura distintas das mulheres.
Pintura corporal da etnia Kayapó feita de Genipapo.
Os significados dessas pinturas são os mais variados onde cada etnia tem suas próprias representações e simbologias. Por exemplo: Temos pinturas que são utilizadas em comemorações, outras são de nossos rituais sagrados. Há aquelas que demonstram nossos sentimentos desde os mais felizes até as de quando estamos revoltados e indignados pelos diversos problemas que enfrentamos, mas o importante é saber que cada povo tem suaspinturas próprias e cada uma dessas pinturas tem um significado único, de acordo com a expressão cultural de cada um desses povos.
Jovem indígena pintado com Urucum





  Categoria: Cultura
Por: Amaré Brito


ARTESANATOS INDÍGENAS

Umas das grandes riquezas conhecidas em nossas comunidades indígenas são os artesanatos. Existem os mais diversos tipos: colares, pulseiras, brincos, anéis, saias, cocares, cerâmicas e também artesanatos que além de serem instrumentos de caças e pescas são utilizados nas danças e rituais de algumas comunidades como o arco e flecha e a borduna.
Os materiais mais utilizados nas nossas aldeias para fabricação dos artesanatos são as sementes, palhas, madeiras, barro, penas, ossos de animais. Assim, nós escolhemos os materiais para fabricação, conforme conseguimos encontrar no meio ambiente que nos cerca.
Cada povo tem sua forma de produzir seus artesanatos que vão se transformando em belas artes e são passados dos mais velhos para os mais jovens, mantendo dessa forma, as características únicas de cada povo.
Exposição de artesanatos indígenas nos jogos indígenas de 2011.

Colares indígenas
     


Por: Amaré Brito  Categoria: Cultura 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

TRANÇADO

 Para o transporte de víveres, para guardar seus pequenos objetos, os recipientes de palha são geralmente usados entre os índios. As formas dos cestos, o tipo de palha de que são feitos, o cuidado de sua execução variam de sociedade para sociedade. Há estilos bem definidos de trabalho em cestaria, de modo que, se um etnólogo examina um cesto, pode dizer em que região ou mesmo em que sociedade foi confeccionado.
De um modo geral, o trançado indígena pode ser classificado em duas grandes classes. Uma é a dos costurados, dos quais podemos tomar por exemplo aqueles cestos feitos com um talo, uma palha ou um feixe de talos ou palha que vai sendo disposto em forma de espiral a partir do seu centro, de modo que cada volta mais externa é ligada, amarrada com ajuda de outro talo ou palha de menor espessura, à volta mais interna.
A outra classe é dos entretrançados, entre os quais se contam os cestos formados de uma série de talos ou palhas, colocados paralelamente, que servem de urdidura, enquanto uma outra série forma a trama. Estes dois tipos gerais permitem muitas variações, que tornam ainda mais numerosas quando se lança mão da cor, entremeando palhas claras e palhas tingidas. A taxonomia do trançado elaborada por Berta Ribeiro (1985) caracteriza os vários subconjuntos em que se desdobram essas classes é dá uma idéia da imensa variedade de formas que se obtêm com a utilização dos mais diversos materiais.
Com a técnica do trançado não somente se confeccionam cestos, mas também outros artefatos, como, por exemplo, as esteiras para as mais diversasa utilidades: servem para forrar o leito, o chão em que se quer sentar ou realizar uma tarefa culinária; servem para cobrir os alimentos; são usadas na confecção de máscaras; servem de tapumes temporários ou chegam a fazer parte de paredes. Tipóias e diademas, guarnecidos ou não de penas, embornais e bolsas flexíveis também se fazem de palha trançada.
Dobrando uma fita de palha sobre si mesma, os índios bororos podiam representar figuras de homem e mulher e os índios do alto Xingu, figuras de animais (Stein, 1940, pp. 355-356). Mas as dobraduras talvez não se incluam na categoria trançado, pois consistem na manipulação de um único item.

Melatti, Júlio Cezar
      Índios do Brasil/ Julio Cezar Melatti – São Paulo,
Editora  da universidade de São Paulo, 2007






                                                                                                                

Identidade e diversidade

As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem diretamente com os índios: as populações rurais.
Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de "ladrões", "traiçoeiros", "preguiçosos" e "beberrões", enfim, de tudo que possa desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ação contra os índios e a invasão de seus territórios.
Já a população urbana, que vive distanciada das áreas indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas décadas tenha se constatado o crescimento da população indígena.
Só recentemente os diferentes segmentos da sociedade brasileira estão se conscientizando de que os índios são seus contemporâneos. Eles vivem no mesmo país, participam da elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham problemas semelhantes, como as consequências da poluição ambiental e das diretrizes e ações do governo nas áreas da política, economia, saúde, educação e administração pública em geral. Hoje, há um movimento de busca de informações atualizadas e confiáveis sobre os índios, um interesse em saber, afinal, quem são eles.
Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo completo de conhecimentos integrados, com fortes ligações com o meio em que vive e se desenvolve. Entendendo cultura como o conjunto de respostas que uma determinada sociedade humana dá às experiências por ela vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo, percebe-se o quanto as diferentes culturas são dinâmicas e estão em contínuo processo de transformação.
O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e linguística, estando entre as maiores do mundo. São cerca de 220 povos indígenas, mais de 80 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas. 180 línguas, pelo menos, são faladas pelos membros destas sociedades, que pertencem a mais de 30 famílias linguísticas diferentes.
No entanto, é importante frisar que as variadas culturas das sociedades indígenas modificam-se constantemente e reelaboram-se com o passar do tempo, como a cultura de qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que isto aconteceria mesmo que não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de origem européia e africana.
No que diz respeito à identidade étnica, as mudanças ocorridas em várias sociedades indígenas, como o fato de falarem português, vestirem roupas iguais às dos outros membros da sociedade nacional com que estão em contato, utilizarem modernas tecnologias (como câmeras de vídeo, máquinas fotográficas e aparelhos de fax), não fazem com que percam sua identidade étnica e deixem de ser indígenas.
A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de vista das diferenças existentes entre as sociedades indígenas e as não-indígenas, quanto sob o ponto de vista das diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem no Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre realidades socioculturais diferentes e à necessidade de convívio entre elas, especialmente num país pluriétnico, como é o caso do Brasil.
É necessário reconhecer e valorizar a identidade étnica específica de cada uma das sociedades indígenas em particular, compreender suas línguas e suas formas tradicionais de organização social, de ocupação da terra e de uso dos recursos naturais. Isto significa o respeito pelos direitos coletivos especiais de cada uma delas e a busca do convívio pacífico, por meio de um intercâmbio cultural, com as diferentes etnias.