segunda-feira, 20 de junho de 2011

Indígenas propõem fortalecimento cultural e união entre os povos do Xingu

 15 de junho 
             
O I Festival de Cultura Xinguana, em comemoração aos 50 anos do Parque Indígena do Xingu, mobilizou as comunidades para discussões sobre a influência dos costumes do “homem branco” e a necessidade de união entre os povos para uma ação conjunta pela preservação do território e da cultura. Cerca de 500 indígenas dos diferentes povos estiveram reunidos, entre os dias 10 e 13 de junho, para relembrar a história da criação do parque, comemorar a data, avaliar a situação atual e planejar os próximos 50 anos.
Foram três dias de atividades culturais e rodas de conversa, para uma avaliação política da vida do Parque até os dias de hoje e os anseios das comunidades para o futuro. Como resultado, a Associação Terra Indígena Xingu (Atix) solicita que governo avalie a viabilidade de um encontro anual, ou pelo menos de 4 em 4 anos, que reúna as principais lideranças, mulheres e jovens dos 16 povos indígenas da região para discutir as demandas das comunidades, informou o presidente da Atix, Pikuruk Kayabi.
Segundo ele, essa união é fundamental para manter a cultura e a preservação do Parque Indígena. “Será um encontro para debater sobre fiscalização, cultura, alternativas econômicas e manter a união entre as etnias do Xingu. Este primeiro Festival permitiu que cada um se conhecesse melhor, pudemos ouvir a opinião de antigas lideranças, o que fortaleceu os jovens que estão nessa luta pela preservação e desenvolvimento da cultura xinguana”, avaliou Pikuruk.
O coordenador regional da Funai no Xingu, Nhonkoberi Suya, avaliou o encontro como muito positivo. “O parque foi pensado para proteger a tradição e manter o xinguano com a cultura sempre viva. Com a chegada de tecnologia, televisão, motor, internet, tem mudado um pouco, mas a gente quer manter o Xingu com a tradição muito forte. O encontro contribuiu para isso, por estarem ali as 16 etnias representadas, com suas tradições diferentes”, disse.
Nhonkoberi se preocupa com os indígenas que têm ido para a cidade e considera que o evento também foi importante no sentido de levantar essa questão e encontrar uma solução para frear essas saídas e a entrada de não índios na Terra Indígena sem o acompanhamento da Funai. “Como coordenador regional tenho preocupação com saída dos jovens, com as pessoas morando na cidade e os problemas que possam vir a acontecer”, ressaltou.
Uma das principais preocupações levantadas foi a influência que os jovens sofrem ao sair das aldeias para estudar nas cidades. Aru Trumai, que conviveu com os irmãos Villas Bôas até os 27 anos, diz que os jovens hoje estão saindo muito e trazendo doenças. “Hoje sai, não fala mais com chefe, com cacique. Daqui a pouco vai querer morar na cidade, trabalhar para fazendeiro. Não é bom”, avalia.
A preocupação foi confirmada por Managu Ikpeng, que questiona a educação que ensina a ter dinheiro. “Tem índio pedindo na cidade. Está dando vergonha”, observa, lembrando que “Orlando (Villas Bôas) orientava que se um dia eles saíssem da aldeia, o branco ia oferecer coisas: açúcar, café, fumo, em troca de alguma coisa. Se aceitar, eles vão destruir tudo e vocês vão ficar doentes”.
Além da influência das cidades, há a preocupação com a nascente do rio Xingu. “A cabeceira do rio fica fora do parque. Peço aos ambientalistas um meio de preservar a nascente. Podiam deixar uma área de 5 Km em torno da nascente”, reivindicou o líder Pirakumã Yawalapiti.
Cultura – As comemorações de 50 anos do Parque Indígena do Xingu incluíram danças, jogos e cinema feito pelos indígenas do parque. Os filmes do cineasta Kamikia Kinsêdjê foram bastante aplaudidos pelo público. Os filmes foram realizados pelo projeto Vídeo nas Aldeias. São documentários sobre a cultura e também histórias de ficção.
Para Kamikia, “a diferença é grande quando o branco vem fazer matéria sobre os povos indígenas, porque ele não tem uma visão ampla sobre o cotidiano da aldeia. A gente sente falta de mais informações”. Ele considera que a tecnologia pode ser uma aliada para a preservação da cultura indígena. “O vídeo pode ajudar a preservar. A produtora tem sede na aldeia e a comunidade tem gostado do nosso trabalho. Conseguimos resgatar cantos com antropólogos e, com isso, os jovens estão aprendendo as músicas”, comemora. Os filmes de Kamikia – A Festa do Rato, Mulheres Guerreiras, A História do Monstro Kátpy (filme e making off) e Os Kinsêdjê Contam sua História - podem ser assistidos no site do Vídeo nas Aldeias.
http://www.funai.gov.br/

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