terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Tem escola na aldeia?

Sim, muitas aldeias têm escola! Como se sabe, a maioria das aldeias fica dentro de Terras Indígenas, assim cada Terra pode ter uma ou mais escolas. Isso vai depender de seu tamanho e da situação de cada comunidade.

As escolas indígenas, assim como aquelas dos não índios, também são um espaço de aprendizado das crianças. Muitas vezes o conteúdo que é ensinado ali pelos professores é bem diferente daquele que é transmitido pelos parentes na aldeia. É claro que estes conteúdos podem se misturar em alguns momentos, mas a escola tem como foco ensinar a escrever, ler, fazer conta, entre outros conhecimentos importantes para o diálogo com o mundo dos não índios, já os parentes ensinam as formas de se organizar da comunidade, como produzir artefatos e tudo aquilo que é importante para se viver bem naquele grupo.

Além disso, o conteúdo que se aprende nas escolas indígenas é diferente daquele das escolas dos não índios. Isso porque os povos indígenas têm direito a ter uma escola diferenciada, isto é, uma escola que ensine conteúdos que se relacionem com a cultura e a língua de cada povo. Mas nem sempre esses direitos são respeitados. Muitas vezes, os professores e os livros usados nas escolas indígenas falam de assuntos que não estão ligados ao cotidiano das comunidades indígenas e ensinam o ponto de vista dos não índios como o único ponto de vista correto.A história da educação nas escolas indígenas no Brasil mostra que, de um modo geral, a escola buscou integrar as populações indígenas à sociedade à sua volta, ou seja, fazer com que eles fizessem parte dela. Mas a “integração” era, na verdade, uma tentativa de faz com que os índios vivessem como os não índios, ensinando-os a falar, ler e escrever em Português, a língua oficial do país. Somente há pouco tempo línguas indígenas passaram a ser usadas na escola.

http://pibmirim.socioambiental.org/como-vivem/aprender

Jeitos de aprender


Ao longo de toda vida as pessoas passam por muitos aprendizados. Aprende-se dos mais diferentes jeitos e em vários momentos. O que se aprende e com quem se aprende também é muito diverso em cada lugar.As crianças indígenas, por exemplo, aprendem muita coisa com seus pais e parentes mais próximos, como os irmãos e os avós. Os conhecimentos podem ser transmitidos durante as atividades do dia a dia ou em momentos especiais, durante os rituais e as festas.



 É principalmente na relação com seus parentes que as crianças aprendem. Caminham junto com eles, observam atentamente aquilo que os mais velhos estão fazendo ou dizendo; acompanham seus pais até a roça; vão pescar com os adultos e brincam muito! Cada brincadeira é um jeito de aprender uma habilidade que será importante no futuro, como saber caçar, pescar, fazer pinturas no corpo, fabricar arcos e flechas, potes, cestos... É por meio destes processos de aprendizagem que as crianças aprimoram as técnicas necessárias para realizar tais atividades.



Na convivência com os mais velhos, aprende-se o jeito certo de se comportar e de se relacionar com todos da família e do grupo. Dessa forma as crianças aprendem, por exemplo, quem são as pessoas que devem ser tratadas como irmãos e irmãs, como tios e tias, com quem poderão se casar no futuro... Dessa maneira vão entendendo qual a sua importância na comunidade.Pouco a pouco, as crianças aprendem os modos de agir, os princípios e tudo aquilo que é importante para que se tornem pessoas produtivas e participativas. Para isso é muito importante estarem sempre atentas aos trabalhos diários e ao aprendizado e transmissão de conhecimentos.

 http://pibmirim.socioambiental.org/como-vivem/aprender

Ye’pa mahsum mostrando a nossa cultura

Ye’pa Bahuriagó Mahsõ
As artes nas culturas dos povos indígenas fazem parte da vida, do nosso dia-a-dia especialmente nos dias dos rituais, participando dos momentos das pinturas faciais e corporais e nos artefatos. O povo Ye’pamahsã (tukano) tem especialidade para fazer o kumurõ (banco) que passa  geração a geração, e a técnica de incrustar para os povos indígenas é milenar já é usado a muito tempo nas construções de artefatos , a pintura que é aplicado para pintar o banco  são extraído da natureza, é uma arte artesanal que funciona como  identidade étnica. Na arte retrato a riqueza da história com as simbologias dentro da nossa cultura, assim trabalhando com a temática do povo da minha origem e ao mesmo tempo em que faço é um registro importante, com todo respeito da diversidade na aplicação e produção dos grafismos  que representam na compreensão do universo do povo que vai a  um encontro e desencontro como a vida.


Grafismo – Suakê
Os Ye’pa mahsãtem a especialidade de fazer kumurõ que é exclusivo do povo, assim  a arte artesanal que formam a rede de trocas na região do Alto Rio Negro no  noroeste do amazonas, envolvendo vários povos indígenas. Nesse sistema tradicional, os kumurõs  Ye’pamahsã estão ao lado dos ralos de mandioca do Baniwa, das canoas dos Tuyuka e Bará, da cestaria dos Dessana, dos cestos de carga Maku e outros. Esses artefatos kumurõ, os ralos Baniwa e os aturásMaku são objetos mais característicos e inconfundíveis da região do Alto Rio Negro.


Semê hori te’é momori hori nin di’ah – Composição dos grafismos do desenho da borboleta com desenho do couro de paca
É importante divulgar a defender a nossa arte e cultura, para manutenção das futuras gerações e com preocupação com meio ambiente integrando homem, natureza e conhecimento, pois a Arte é um dos meios de divulgação das culturas e direitos dos povos indígenas através da defesa das obras e textos.


Ye’pamahsun Kum Ña’tüo’ñarõ- Olhar pensar Ye’pamahsun .


Colaborador: Bu’ú Kennedy, do povo Ye’pamahsã (Tukano), Município de São Gabriel da Cachoeira localização geográfica noroeste do Amazonas – Brasil fronteira com Colômbia.






A técnica que utilizo é marchetaria que é arte de incrustar ou embuti pedaço de lamina de madeira(certificada de origem com manejo e responsabilidade  ambiental e reciclada) diferente e recortado para fazer e formar paisagem, grafismo alto relevo e entre outros.”
“É importante participar das mostras e prêmios para mostrar nossas artes, da nossa forma com todo respeito a diversidade, ousar  com nosso espirito de guerreiro e confiar a si mesmo. Para que cheguem ao conhecimento da sociedade em especial as crianças, conhecendo respeitarão a diversidade e serão futuros defensores e bons cidadãos. “
   Categoria: Cultura
Por: Marina Cândido Marcos

Censo 2010: população indígena é de 896,9 mil, tem 305 etnias e fala 274 idiomas

imagem google
No Censo 2010, o IBGE aprimorou a investigação sobre a população indígena no país, investigando o pertencimento étnico e introduzindo critérios de identificação internacionalmente reconhecidos, como a língua falada no domicílio e a localização geográfica. Foram coletadas informações tanto da população residente nas terras indígenas (fossem indígenas declarados ou não) quanto indígenas declarados fora delas. Ao todo, foram registrados 896,9 mil indígenas, 36,2% em área urbana e 63,8% na área rural. O total inclui os 817,9 mil indígenas declarados no quesito cor ou raça do Censo 2010 (e que servem de base de comparações com os Censos de 1991 e 2000) e também as 78,9 mil pessoas que residiam em terras indígenas e se declararam de outra cor ou raça (principalmente pardos, 67,5%), mas se consideravam “indígenas” de acordo com aspectos como tradições, costumes, cultura e antepassados.
Também foram identificadas 505 terras indígenas, cujo processo de identificação teve a parceria da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) no aperfeiçoamento da cartografia.
Essas terras representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares), onde residiam 517,4 mil indígenas (57,7% do total). Apenas seis terras tinham mais de 10 mil indígenas, 107 tinham entre mais de mil e 10 mil, 291 tinham entre mais de cem e mil e em 83 residiam até cem indígenas. A terra com maior população indígena é Yanomami, no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil indígenas.
Foi observado equilíbrio entre os sexos para o total de indígenas (100,5 homens para cada 100 mulheres), com mais mulheres nas áreas urbanas e mais homens nas rurais. Porém, percebe-se um declínio no predomínio masculino nas áreas rurais entre 1991 e 2010, especialmente no Sudeste (de 117,5 para 106,9) Norte (de 113,2 para 108,1) e Centro-Oeste (de 107,4 para 103,4).
A pirâmide etária indígena tem a base larga e vai se reduzindo com a idade, em um padrão que reflete suas altas taxas de fecundidade e mortalidade, bastante influenciadas pela população rural. Em 2010, havia 71,8 indígenas menores de 15 anos ou de 65 anos ou mais de idade para cada 100 ativos. Já para os não indígenas, essa relação correspondia a 45,8 inativos para cada 100 em idade provável de atividade.
Na área rural, a proporção de indígenas na faixa etária de 0 a 14 anos (45,0%) era o dobro da área urbana (22,1%), com o inverso acontecendo na faixa de 65 anos ou mais (4,3% na rural e 7,0% na urbana). A pirâmide etária dos indígenas residentes fora das terras indígenas indica baixa fecundidade e mortalidade. Já para os indígenas residentes nas terras, a pirâmide etária ainda é resultante de uma alta natalidade e mortalidade. Metade da população indígena tinha até 22,1 anos de idade. Nas terras indígenas, o índice foi de 17,4 anos e, fora delas, 29,2 anos.
O Censo 2010 investigou pela primeira vez o número de etnias indígenas (comunidades definidas por afinidades linguísticas, culturais e sociais), encontrando 305 etnias, das quais a maior é a Tikúna, com 6,8% da população indígena. Também foram identificadas 274 línguas indígenas. Dos indígenas com 5 anos ou mais de idade 37,4% falavam uma língua indígena e 76,9% falavam português.
Mesmo com uma taxa de alfabetização mais alta que em 2000, a população indígena ainda tem nível educacional mais baixo que o da população não indígena, especialmente na área rural. Nas terras indígenas, nos grupos etários acima dos 50 anos, a taxa de analfabetismo é superior à de alfabetização.
Entre os indígenas, 6,2% não tinham nenhum tipo de registro de nascimento, mas 67,8% eram registrados em cartório. Entre as crianças indígenas nas áreas urbanas, as taxas são próximas às da população em geral, ambas acima dos 90%.
A análise de rendimentos comprovou a necessidade de se ter um olhar diferenciado sobre os indígenas: 52,9% deles não tinham qualquer tipo de rendimento, proporção ainda maior nas áreas rurais (65,7%); porém, vários fatores dificultam a obtenção de informações sobre o rendimento dos trabalhadores indígenas: muitos trabalhos são feitos coletivamente, lazer e trabalho não são facilmente separáveis e a relação com a terra tem enorme significado, sem a noção de propriedade privada.
Em 2010, 83,0% das pessoas indígenas de 10 anos ou mais de idade recebiam até um salário mínimo ou não tinham rendimentos, sendo o maior percentual encontrado na região Norte (92,6%), onde 25,7% ganhavam até um salário mínimo e 66,9% eram sem rendimento. Em todo o país, 1,5% da população indígena com 10 anos ou mais de idade ganhava mais de cinco salários mínimos, percentual que caía para 0,2% nas terras indígenas.
Somente 12,6% dos domicílios eram do tipo “oca ou maloca”, enquanto que, no restante, predominava o tipo “casa”. Mesmo nas terras indígenas, ocas e malocas não eram muito comuns: em apenas 2,9% das terras, todos os domicílios eram desse tipo e, em 58,7% das terras, elas não foram observadas.
Essas e outras informações podem ser vistas na publicação “Censo 2010: Características Gerais dos Indígenas – Resultados do Universo”, que pode ser acessada no link:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_gerais_indigenas/default_caracteristicas_gerais_indigenas.shtm
Terras indígenas em 2010 correspondiam a 12,5% do território nacional
No âmbito do Censo 2010, as 505 terras indígenas reconhecidas compreendiam 12,5% do território brasileiro (106.739.926 hectares), com significativa concentração na Amazônia Legal. Foram consideradas “terras indígenas” as que estavam em uma de quatro situações: declaradas (com Portaria Declaratória e aguardando demarcação), homologadas (já demarcadas com limites homologados), regularizadas (que, após a homologação, foram registradas em cartório) e as reservas indígenas (terras doadas por terceiros, adquiridas ou desapropriadas pela União). No momento do Censo, o processo de demarcação encontrava-se ainda em curso para 182 terras.
Em 2010, o Brasil tinha seis terras indígenas com mais de 10 mil indígenas, 107 entre mais de mil e 10 mil, 291 entre mais de cem e mil e 83 com até cem indígenas. A terra com maior população indígena é Yanomami, localizada no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil indígenas, 5% do total.
Cartograma – Número de terras indígenas e superfície, segundo a situação fundiária

78,9 mil pessoas se declararam de outra cor ou raça, mas se consideravam indígenas
A população indígena residente no Brasil contabilizada pelo quesito cor ou raça foi de 817,9 mil pessoas. Esse é o número usado pelo IBGE para comparações com os Censos 1991 e 2000. Além delas, foram também agregadas ao grupo as pessoas que residiam em terras indígenas e se declararam de outra cor ou raça, mas se consideravam indígenas de acordo com tradições, costumes, cultura e antepassados, entre outros aspectos. Esse contingente somou 78,9 mil pessoas (um acréscimo de 9,7% sobre o total de indígenas do quesito cor ou raça), resultando em um total de 896,9 mil indígenas em todo o país, dos quais 36,2% residiam em área urbana e 63,8% na área rural. Entre as regiões, o maior contingente ficava na região Norte, 342,8 mil indígenas e o menor no Sul, 78,8 mil. Um total de 517,4 mil (57,7% do total nacional) residiam em terras indígenas, dos quais 251,9 mil (48,7%) estavam na região Norte. Considerando a população indígena residente fora das terras, a maior concentração foi encontrada no Nordeste, 126,6 mil.
Pardos eram 67,5% das pessoas de outra cor ou raça que se consideravam indígenas
Nas 488 terras indígenas onde foi captada informação sobre a população residente, as pessoas que se declararam como indígena no quesito cor ou raça, 438,4 mil, correspondiam a 77,2%. As que não se declararam, mas se consideravam indígenas, eram 78,9 mil (13,9%). Também havia 8,8% de pessoas residentes nas terras que não se declararam e não consideravam indígenas e sem declaração. Entre as regiões, o Nordeste apresentou a maior proporção de pessoas que não se declararam, mas se consideravam indígenas, 22,7%. No Ceará, esse percentual chegou a 45,5%.
A maior proporção da população residente em terras indígenas que se declarou de outra cor ou raça, mas se considerava indígena, foi de pardos (67,5%). A proporção se repetiu em quase todas as regiões e chegou a 74,6% no Norte. Só no Centro-Oeste os pardos ficaram em segundo lugar, com 33,0%, enquanto os brancos concentravam 60,4%.
População indígena na área rural tem predomínio masculino, mas observa-se declínio
Em 2010, a razão de sexo (número de homens para cada 100 mulheres) da população indígena se manteve estável em relação a 2000 (100,5 e 99,0, respectivamente), indicando equilíbrio entre os sexos. Na análise por situação de domicílio, a razão de sexo segue o padrão da população não indígena: mais mulheres nas áreas urbanas e mais homens nas áreas rurais. A área urbana da região Norte foi a única que apresentou tendência de crescimento masculino (de 89,4 homens para cada 100 mulheres em 1991 para 95,9 em 2010). Já na área rural percebe-se um declínio no predomínio masculino, especialmente no Sudeste (de 117,5 para 106,9) Norte (de 113,2 para 108,1) e Centro-Oeste (de 107,4 para 103,4). Na comparação das terras indígenas com outras áreas, observou-se predomínio masculino em 341 terras (70% do total). A TI Paraná do Paricá (AM) apresentou a menor razão de sexo: apenas 52,9 homens para cada 100 mulheres.
Indígenas nas áreas rurais e em terras indígenas são predominantemente jovens
A pirâmide etária indígena tem a base larga e vai se reduzindo com a idade. Esse padrão reflete suas altas taxas de fecundidade e mortalidade, influenciadas pela população rural. Entre 2000 e 2010, a proporção de indígenas entre 0 a 14 anos de idade passou de 32,6% para 36,2%, enquanto o grupo etário de 15 a 64 anos de idade foi de 61,6% para 58,2%.
A razão de dependência (quociente entre as populações inativas, de 0 a 14 anos e com 65 ou mais anos de idade, e a população em idade ativa, entre 15 e 64 anos) mostrou que, em 2010, havia 71,8 inativos para cada 100 ativos. Para os não indígenas, essa relação era de 45,8 inativos para cada 100 ativos. O índice de envelhecimento populacional indígena (quantidade de pessoas de 65 anos ou mais para cada 100 de 0 a 14 anos) de 15,5 idosos para cada 100 jovens, corresponde à metade do da população não indígena (30,8).
Na área rural, a proporção de indígenas na faixa etária de 0 a 14 anos (45,0%) era o dobro da área urbana (22,1%), com o inverso acontecendo na faixa de 65 anos ou mais (4,3% na rural e 7,7% na urbana). Entre as regiões, a tendência e as proporções foram as mesmas para as crianças e adolescentes na área rural. Já na área urbana, no Sudeste, o contingente de 0 a 14 anos foi de 14,6%, menos da metade da região Norte (33,2%).
Os indígenas residentes fora das terras indígenas acompanhavam o padrão da estrutura por sexo e idade da população não indígena, com baixa fecundidade e mortalidade, e, também, uma razão de dependência baixa e com idade mediana alta. Em 93,6% das terras, a população até 24 anos ultrapassava os 50%. Em seis terras, não foram encontrados indígenas com mais de 50 anos de idade: Itatinga (RJ), Maraã Urubaxi (AM), Sepoti (AM), Batovi (MT), Baía do Guató (MT) e Mundo Verde/Cachoeirinha (MG). A maior proporção de indígenas de 50 anos ou mais (42,9%) foi encontrada na TI Mapari (AM). Metade da população indígena total tinha até 22,1 anos. Nas terras indígenas, esse índice foi de 17,4 anos e, fora delas, 29,2 anos. Na comparação entre homens e mulheres, a população total e a que residia fora das terras indígenas repetiram o padrão dos não indígenas, com a idade mediana das mulheres ligeiramente mais alta do que a dos homens (21,8 anos para eles e 22,3 para elas no geral, 28,3 anos para eles e 30,2 para elas fora das terras); nas terras, foram 17,7 anos para eles e 17,0 para elas.
Analfabetismo chega a 33,4% para os indígenas de 15 anos ou mais em áreas rurais
Entre 2000 e 2010, a taxa de alfabetização dos indígenas com 15 anos ou mais de idade (em português e/ou no idioma indígena) passou de 73,9% para 76,7%, aumento semelhante ao dos não indígenas (de 87,1% para 90,4%). Porém, entre os indígenas, em 2010, a taxa de alfabetização masculina (78,4%) era superior à feminina (75,0%). Na área rural, a taxa de analfabetismo chegou a 33,4%, sendo 30,4% para os homens e 36,5% para as mulheres. Já nas terras indígenas, 67,7% dos indígenas de 15 anos ou mais de idade eram alfabetizados. Para os indígenas residentes fora das terras, a taxa de alfabetização foi 85,5%. Tanto dentro das terras quanto fora delas os homens tinham taxas de alfabetização superiores às das mulheres. Nas terras, as gerações mais jovens eram mais alfabetizadas que a população acima dos 50 anos, cujas taxas de analfabetismo (52,3% para o grupo entre 50 e 59 anos e 72,2% para 60 ou mais anos) eram maiores que as de alfabetização (47,7% e 27,8%, respectivamente).
Na área rural, 38,4% das crianças indígenas não tinham certidão de nascimento
A proporção de indígenas com registro de nascimento (67,8%) era menor que a de não indígenas (98,4%), 27,8% dos indígenas tinham Registro Administrativo de Nascimento e Óbito de Índios (RANI), feito pela FUNAI, e 7,4% deles não tinham qualquer tipo de registro. As crianças indígenas residentes nas áreas urbanas tinham proporções de registro em cartório (90,6%) mais próximas às dos não indígenas (98,5%). Mas, o número de crianças residentes na área rural é 3,5 vezes maior do que na área urbana e a proporção de registrados é significativamente menor (61,6%). Na área rural, 7,6% das crianças indígenas de até 10 anos não tinha qualquer tipo de registro. Nas terras indígenas, 63,0% dos indígenas com até 10 anos eram registrados em cartório e, fora delas, eram 87,5%. O percentual de crianças com o RANI dentro das terras (27,8%) era três vezes superior ao das crianças residentes fora (8,7%). Já o percentual de crianças não indígenas residentes nas terras, registradas em cartório, chegou a 96,2%. Os indígenas que não tinham nenhum tipo de registro nas terras indígenas correspondiam a 7,4% e os não indígenas, 2,4%.
Censo 2010 contou 305 etnias indígenas
O Censo 2010 investigou, pela primeira vez, o pertencimento étnico, sendo “etnia” a comunidade definida por afinidades linguísticas, culturais e sociais. Foram identificadas 305 etnias a partir das pessoas que se declararam ou se consideraram indígenas. Dentro das terras indígenas, foram contadas 250 e, fora delas, 300.
A maior concentração de etnias fora das terras indígenas ocorreu para etnias com até 50 pessoas e não se observou etnia com população acima de 10 mil indígenas. Já dentro das terras o maior agrupamento foi na classe de população entre 251 e 500 indígenas. Do total de indígenas declarados ou considerados, 672,5 mil (75%) declararam o nome da etnia, 147,2 mil (16,4%) não sabiam e 53,8 mil (6,0%) não declararam. Dentro das terras, 463,1 mil (89,5%) declararam etnia e 53,4 mil (10,3%) não responderam. Para os indígenas residentes fora das terras, 209,5 mil (55,2%) declararam etnia e 146,5 mil (38,6%) não sabiam.
A etnia Tikúna tinha o maior número de indígenas (46,1 mil), resultado influenciado por 85,5% deles que residiam em terras indígenas. Os indígenas da etnia Terena estavam em maior número fora das terras (9,6 mil). Nas terras indígenas, as etnias Yanomámi, Xavante, Sateré-Mawé, Kayapó, Wapixana, Xacriabá e Mundurukú não estavam presentes nas 15 mais enumeradas fora das terras. Já fora das terras, as não coincidentes eram Baré, Múra, Guarani, Pataxó, Kokama, Tupinambá e Atikum.
Em 2010, 293,9 mil indígenas falavam 274 idiomas
No Brasil, foram contabilizadas 274 línguas indígenas faladas, excluindo as originárias dos outros países, denominações genéricas de troncos e famílias linguísticas, dentre outras, sendo a Tikúna a mais falada (34,1 mil pessoas). Nas terras, foram declaradas 214 línguas e 249 foram contabilizadas tanto nas áreas urbanas quanto rurais localizadas fora das terras.
Dos 786,7 mil indígenas de 5 anos ou mais de idade, 293,9 mil (37,4%) falavam uma língua indígena, 57,3% dentro das terras e 12,7% fora delas. O português era falado por 605,2 mil (76,9%) e era falado por praticamente todos os indígenas fora das terras (96,5%).
A proporção de indígenas entre 5 e 14 anos que falavam língua indígena era de 45,9%, 59,1% dentro das terras e 16,2% fora delas. Na faixa entre 15 e 49 anos e para aqueles com 50 anos ou mais, o percentual de falantes declinava com o aumento da idade (35,8% e 28,5%). Dentro desses três grupos etários, nas terras indígenas, quase todos os falantes de língua indígena não falavam português, sendo o maior percentual para os indígenas de 50 anos ou mais (97,3%), enquanto que, fora das terras, nessa mesma faixa etária, o Censo 2010 revelou o menor percentual, 40,7% de falantes somente de língua indígena.
Dentro das terras, 97,9% dos indígenas que recebiam até um salário mínimo falavam língua indígena e não falavam português, enquanto fora das terras o percentual declinou para 50,6%. Entre os sem rendimento, 96,6% dos residentes nas terras indígenas falavam apenas língua indígena. Fora das terras, a proporção era de 68,7%.
Análise de rendimentos indica relações diferenciadas dos indígenas com o trabalho
O Censo 2010 indicou que 52,9% dos indígenas não tinham qualquer tipo de rendimento, proporção ainda maior nas áreas rurais (65,7%). Porém, vários fatores dificultam a obtenção de informações sobre o rendimento dos trabalhadores indígenas: muitos trabalhos são feitos coletivamente, lazer e trabalho não são facilmente separáveis e a relação com a terra tem enorme significado, sem a noção de propriedade privada.
Na categoria “sem rendimento”, as diferenças entre homens indígenas e não indígenas (51,9% contra 30,7%, respectivamente) são maiores do que entre as mulheres (53,9% contra 43,0%). Entre as mulheres indígenas e não indígenas da área urbana, praticamente não há diferença (41,6% e 41,9%); a variação entre os homens é um pouco maior (31,6% e 28,8%). Na área rural, a proporção de mulheres indígenas sem rendimento (64,5%) é um pouco menor que a dos homens (66,7%), diferente da comparação dos não indígenas (50,4% para mulheres e 40,4% para homens). Ocorre que muitas das mulheres indígenas, juntamente com seus filhos, desenvolvem atividades rentáveis ligadas ao artesanato.
Em 2010, 83,0% dos indígenas de 10 anos ou mais de idade recebiam até um salário mínimo ou não tinham rendimentos, percentual concentrado na região Norte (92,6%, sendo 66,9% sem rendimento). Já o Sudeste apresentou a menor proporção, tanto de pessoas que recebiam até um salário mínimo (25,9%) quanto das sem rendimentos (34,7%). Para os não indígenas, a proporção de pessoas de 10 anos ou mais de idade sem rendimento foi de 37,0% e das que recebiam até um salário mínimo, de 27,5%.
Em todo o país, 1,5% da população indígena com 10 anos ou mais de idade ganhava mais de cinco salários mínimos, percentual que caía para 0,2% nas terras indígenas, onde 65,8% dos indígenas não tinham rendimentos, enquanto, entre os indígenas residentes fora das terras, a proporção caiu para 39,5%. Nas terras, predominam atividades agrícolas de subsistência e os rendimentos monetários nem sempre são a melhor forma de aferir remuneração.
Nas unidades da Federação, variaram bastante as proporções de indígenas sem rendimentos e com até um salário mínimo, dentro e fora das terras. Nas terras, os dois estados com maiores números de indígenas com rendimentos acima de um salário mínimo foram Espírito Santo (19,3%) e Santa Catarina (16,8%). Fora das terras, o rendimento, de modo geral, era melhor, sendo menos favorável no Acre (11,2%), Amazonas (10,7%) e Ceará (14,6%).
Em 85,4% das terras, mais de 50% dos indígenas não tinham rendimento em dinheiro, nem benefício. Em 96,1% das terras, 50% dos indígenas de 10 anos ou mais de idade recebiam até um salário mínimo mensal e, em cinco delas, nenhum indígena recebia qualquer rendimento: Zo’E (PA), Sagarana (RO), Rio Omerê (RO), Batovi (MT) e Ava Canoeiro (GO).
Maior parte dos domicílios indígenas é ocupada por um só núcleo familiar
Os domicílios particulares permanentes cujo responsável se declarou indígena correspondem a 0,4% do total de domicílios do país; o percentual nas áreas rurais (1,2%) é seis vezes maior que o das áreas urbanas (0,2%).
Segundo o Censo 2010, 63,3% dos domicílios indígenas tinham unidades domésticas nucleares (responsável, cônjuge e filhos solteiros). Para as unidades domésticas estendidas (nuclear acrescida de outros parentes), o percentual correspondeu a 19,1% e, para as compostas (estendidas acrescidas de não parentes), a proporção foi de 2,5%. A maior responsabilidade pelos domicílios indígenas é masculina, com um excedente de 82%. Entre não indígenas, a prevalência da responsabilidade masculina fica em torno de 58%.
Ocas ou malocas são apenas 12,6% do total de domicílios indígenas
O Censo introduziu um novo tipo de domicílio particular permanente, a “oca ou maloca”, aplicada só às terras indígenas. Estas habitações, usadas por várias famílias, podem ou não ter paredes, variam de tamanho e geralmente são cobertas de folhas, palhas ou outras matérias vegetais. Apenas 12,6% dos domicílios eram do tipo “oca ou maloca”; no restante, predominavam casas. Só em 2,9% das terras, todos os domicílios foram classificados como “oca ou maloca” e, em 58,7% das terras, essas moradias não foram observadas.
Na região Norte, 70,9% dos domicílios indígenas não têm banheiro
Em 2010, 36,1% dos domicílios indígenas não tinham banheiro. Nas áreas urbanas, 91,7% dos domicílios indígenas tinham um ou mais banheiros e apenas 8,3%, nenhum. Essa situação se inverte nos domicílios rurais: 31,2% com um ou mais banheiros e 68,8% sem banheiro. Entre as regiões, o Norte se destacou, com 70,9% dos domicílios sem banheiro.
Os domicílios indígenas, principalmente nas áreas rurais, apresentaram os maiores déficits em esgotamento sanitário, com predominância do uso da fossa rudimentar (65,7%). Nas áreas urbanas, a rede geral de esgoto ou pluvial associado com fossa séptica lidera os percentuais, com 67,5%. Nesse quesito, em todas as regiões brasileiras, a situação era desfavorável em relação aos não indígenas e foi pior no Norte: 29,3% dos domicílios indígenas e 40,5% dos não indígenas não tinham o serviço. No país, foram 57,8% dos domicílios com responsáveis indígenas com esgotamento sanitário.
Apenas em 2,2% das terras indígenas todos os domicílios estavam ligados à rede de esgoto ou fluvial ou tinham fossa séptica; em 52,3%, nenhum domicílio era atendido por esses sistemas. Em 84,1% das terras, numa faixa de 75% a 99% dos domicílios, o tipo de esgotamento era fossa rudimentar, vala, rio, lago ou mar ou outro tipo. Do conjunto de domicílios que tinham algum tipo de esgotamento, a fossa rudimentar tinha as maiores proporções, principalmente no Sul (60,9%), Centro-Oeste (55,5%) e Nordeste (55,0%).
No Brasil, 60,3% dos domicílios indígenas contavam com rede geral de abastecimento de água, contra 82,9% dos não indígenas. No Norte, só 27,3% tinham rede geral. A região liderava na categoria “outra forma de abastecimento”, com 44,6%. Desse contingente, 85,1% vinham de rios, açudes, lagos e igarapés. Aqui também havia uma categoria específica, de “poço ou nascente na aldeia e fora da aldeia”, só pesquisada nas terras.
Nas terras, 33,6% dos domicílios tinham rede de abastecimento de água; a maioria usava poço ou nascente, dentro ou fora da propriedade. Em 57,1% das terras, nenhum domicílio estava ligado à rede, presente na totalidade dos domicílios apenas em 3,3% das terras.
Poucos domicílios das terras indígenas eram atendidos por coleta de lixo (16,4%), que não chegou a nenhum domicílio em 325 terras indígenas (66,7%) e apenas em 1,8% das terras abrangia todos os domicílios. Em 18,3% das terras, todos os domicílios queimavam o lixo na propriedade. O lixo de todos os domicílios era jogado em terreno baldio ou logradouro em seis terras: Areões (MT), Zo’E (PA), Aripuanã (MT), Badjonkore (PA), Riozinho do Alto Envira (AC) e Mundo Verde/Cachoeirinha (MG).
A energia elétrica, proveniente de companhia distribuidora ou outras fontes, dentro das terras, foi contabilizada em 70,1% dos domicílios, Do total de terras indígenas, 10,3% não tinham qualquer tipo de energia elétrica e em 10,9% todos os domicílios tinham algum tipo.
 2013 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O MUSEU DO ÍNDIO ESTÁ FECHADO PARA OBRAS E MONTAGEM DE NOVA EXPOSIÇÃO

Museu do Índio vai ganhar em breve um novo espaço

Os primeiros passos para a construção de uma nova Casa Guarani já foram dados.
O material para iniciar a obra chegou na terça-feira, 03/12, e foi recebido pelo grupo de sete rapazes da aldeia Sapukay, que está no Rio de Janeiro especialmente para construir a ambientação.
O desenvolvimento do projeto arquitetônico envolveu toda a comunidade – 35 famílias – de Sapukay, na Terra Indígena de Bracuí, em Angra dos Reis (RJ) e segue os padrões tradicionais da cultura Guarani.
Feita com eucalipto tratado e piaçava, a casa vai marcar a implantação do Projeto Índio e Arte. O espaço será criado com o objetivo de comercializar arte indígena de diversas etnias.

Foto: Paulo Múmia.






Foto: SEAC





http://www.museudoindio.org.br/divulgacao/noticias/302-museu-do-indio-vai-ganhar-em-breve-um-novo-espaco

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Firmado acordo entre Funai e Ibama para combater e prevenir incêndios em terras indígenas



A Fundação Nacional do Índio e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis assinaram, na manhã desta terça-feira (03), acordo de cooperação técnica para implementação do Programa Brigadas Federais em Terras Indígenas. Celebrado no edifício sede do Ibama em Brasília (DF), o acordo também prevê a realização de ações de prevenção, monitoramento e combate aos incêndios florestais. 

A presidenta da Funai, Maria Augusta Assirati, destacou a importância da parceria para o combate aos incêndios nas terras indígenas. “A assinatura desse acordo é um passo extremamente importante para a Funai, pois ainda temos algumas dificuldades de atuar nessa questão. Essa é uma agenda de interesse de todo o país e nosso trabalho articulado com certeza trará resultados positivos para todos os envolvidos”, afirmou Maria Augusta. 

As brigadas serão compostas exclusivamente por integrantes das comunidades indígenas, podendo ser complementadas por membros não indígenas, quando necessário. Os integrantes serão selecionados pelo Ibama e participarão de testes de seleção para capacitação em prevenção e combate aos incêndios florestais. A Funai irá promover a interlocução entre as comunidades indígenas e os servidores do Ibama, para viabilizar a implantação das brigadas nas terras indígenas, além de fornecer apoio logístico, como alimentação, transporte e alojamento, para realização das atividades, principalmente quando houver a necessidade de deslocamento de brigadistas para apoio a combates em terras que não foram contempladas com brigadas. 

Segundo o presidente do Ibama, Volney Zanardi Júnior, 2013 representou um ano de inovação para o órgão. “Deixamos de atuar apenas nos estados e municípios e ampliamos nossa atuação nas áreas federais, passando a atender as terras indígenas e assentamentos. A partir dessa ampliação, decidimos criar esse acordo robusto de integração entre os órgãos”, afirmou Zanardi, ao comentar o acordo celebrado. Para o Diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, o acordo servirá de modelo para outros países. “Nossas brigadas indígenas servirão de modelo a ser mostrado para todo o mundo. Os índios atuarão defendendo suas terras, que são terras da União”, afirmou Evaristo.

                                                          
 Parceria Funai – Prevfogo




A parceria da Funai com o Prevfogo/Ibama acontece desde 2010, a iniciada com a participação da Fundação no Centro Integrado Multi Agências (Ciman), consiste numa sala de situação coordenada pelo Prevfogo. Essa parceria vem rendendo bons resultados: somente em 2013, os órgãos já promoveram a formação das 18 novas Brigadas Federais Indígenas.

De acordo com a coordenadora de Prevenção de Ilícitos da Coordenação-Geral de Monitoramento Territorial (CGMT) da Funai, Tatiana Vilaça, a participação no Ciman permitiu que novas formas de atuação foram pensadas. “A partir da parceria com o Prevfogo, identificamos a necessidade de trabalharmos com a questão dos incêndios de forma mais integrada. Fizemos formações de servidores como instrutores de brigadas, tanto na sede quanto nas regionais. Essas pessoas são pontos focais para realizarem a formação de brigadistas em suas áreas”, afirma Vilaça.

Segundo Vilaça, esses servidores promovem a formação de Grupos de Prevenção a Incêndios Florestais em Terras Indígenas, dentro do Programa de Capacitação em Proteção Territorial, por meio da capacitação de indígenas sobre prevenção e manejo do fogo. A formação busca valorizar o conhecimento tradicional, combinando-o com o conhecimento técnico, promovendo um diálogo intercultural acerca das práticas de manejo do fogo. Segundo a coordenadora, os integrantes dos Grupos de Prevenção a Incêndios também auxiliam nas formações do Ibama e do ICMBio.

“Sabemos que o combate cabe ao Ibama, porém com o amadurecimento do diálogo, entendemos que também podemos atuar na prevenção e monitoramento de incêndios”, conta a coordenadora, que enfatiza o trabalho de disseminação de informações de manejo nas terras indígenas.

Além de contribuir no combate aos incêndios, a ação conjunta também apresenta outros reflexos positivos para a proteção territorial. “A fiscalização territorial também se beneficia com a presença dos Grupos de Combate nas terras indígenas. A orientação para queima controlada das roças evita colocar em risco áreas de interesse da comunidade, bem como evita dano socioeconômico e ambiental, aliado com a valorização dos conhecimentos tradicionais”, afirma Vilaça.

Programa de Capacitação em Proteção Territorial

No âmbito do Plano Plurianual da Funai (2012-2015), foi desenvolvido o Programa de Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas, que tem como objetivo garantir aos povos indígenas a plena ocupação e gestão de suas terras, contribuindo para a redução de conflitos territoriais, a proteção ambiental e o fomento a atividades econômicas sustentáveis.

Neste contexto, surge o Programa de Capacitação em Proteção Territorial, desenvolvido pela Diretoria de Proteção Territorial (DPT), através da Coordenação Geral de Monitoramento Territorial (CGM), com o apoio da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GIZ).

O Programa de Capacitação em Proteção Territorial é voltado para indígenas e servidores da Funai e tem como objetivo principal proporcionar a construção de estratégias de proteção territorial voltadas para a prevenção de ilícitos dentro de terras indígenas, potencializando as práticas de vigilância indígena já existentes, bem como criar condições para o envolvimento das comunidades indígenas em ações de proteção territorial em parceria com a Funai. E entre os sete temas que compõem o Programa, está a Prevenção e monitoramento de incêndios florestais em terras indígenas.

Nessa perspectiva, a Prevenção e monitoramento de incêndios capacita os técnicos da Funai com conhecimentos conceituais para dialogar com as comunidades indígenas sobre as técnicas de monitoramento e prevenção de incêndios florestais, além de subsidiar o trabalho de formação de Grupos de Prevenção a Incêndios Florestais em terras indígenas, a serem formados nas comunidades mais vulneráveis à ocorrência de incêndios florestais.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

CINCO EQUÍVOCOS SOBRE AS CULTURAS INDÍGENAS



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Se não tivermos conhecimento correto sobre a história indígena, não poderemos explicar o Brasil contemporâneo. As sociedades indígenas constituem um indicador extremamente sensível das características da sociedade que com elas interage. A sociedade brasileira se desnuda e se revela no relacionamento com os povos indígenas. Nesse sentido, buscar compreender as sociedades indígenas não é apenas procurar conhecer “o outro”, “o diferente”, mas implica conduzir as indagações e reflexões sobre a própria sociedade em que vivemos.

1° EQUÍVOCO – O ÍNDIO GENÉRICO
A primeira idéia que a maioria dos brasileiros tem sobre os índios é a de que eles constituem um bloco único, com a mesma cultura, compartilhando as mesmas crenças, a mesma língua. Ora, este equívoco reduz culturas tão diferenciadas a uma entidade supraétnica. O Tukano, o Desana, o Munduruku, o Waimiri-Atroari deixam de ser Tukano, Desana, Munduruku e Waimiri-Atroari para se transformar no “ÍNDIO”, isto é, no ÍNDIO GENÉRICO.

Hoje vivem no Brasil mais de 200 etnias, falando 188 línguas diferentes. Cada povo desses tem língua, religião, arte, ciência e dinâmica histórica próprias, diferenciando-se uns dos outros. Só para se ter noção dessa enorme diversidade, quando Frei Gaspar Carvajal desceu o rio Amazonas, em 1540, encontrou ali povos que falavam dezenas de línguas diferentes, tão diferentes entre elas como o português e o alemão. Trabalho feito pelo lingüista tcheco Cestmir Loukotka, em 1968, sobre classificação de línguas, mostrou que na Amazônia brasileira, em 1500, eram faladas mais de 700 línguas diferentes.

O grau de intercomunicação entre eles é variável. A diferença que pode haver entre a língua makuxi e a ingaricó, ambas do tronco lingüístico karib, é comparável à existente entre o português e o espanhol, ou seja, é possível estabelecer um nível mínimo de comunicação. No entanto, não é o que ocorre, por exemplo, entre a língua makuxi (karib) e a wapixana (aruák); entre línguas de troncos diferentes, as diferenças podem ser comparáveis à existente entre o alemão e o português, sem condição de entendimento.

2° EQUÍVOCO – CULTURAS ATRASADAS
A segunda idéia equivocada é considerar as culturas indígenas como sendo ATRASADAS e PRIMITIVAS. Os povos indígenas produziram saberes, ciências (em moldes diversos da nossa ciência), arte refinada, literatura, poesia, música, religião. Suas culturas não são atrasadas como durante muito tempo pensaram os colonizadores e como ainda pensam os mal-informados.

As línguas indígenas, por exemplo, foram consideradas pelo colonizador, equivocadamente, como línguas “inferiores”, “pobres”, “atrasadas”. Ora, os lingüistas sustentam que qualquer língua é capaz de expressar qualquer idéia, pensamento, sentimento e que, portanto, não existe uma língua melhor que a outra, nem língua inferior ou mais pobre que outra. As pessoas, no entanto, confundem muitas vezes as línguas com os falantes. O que existe são falantes que, na estrutura social, ocupam posições privilegiadas ou não.

As religiões indígenas também foram consideradas pelo catolicismo guerreiro, no passado, como conjunto de superstições. Entretanto, basta entrar em contato com as formas de expressão religiosa de qualquer grupo indígena, para verificar quanto esta visão é etnocêntrica e preconceituosa. Os Guarani, por exemplo, são considerados por estudiosos como “os teólogos da floresta”, devido à sua profunda religiosidade, que se manifesta a todo momento, no cotidiano, penetrando nas diversas esferas da vida. As próprias atividades econômicas aparecem muitas vezes como simples pretexto para a realização de cerimônias. A colheita de produtos de roça pode ser motivo para rezas e danças rituais. O ciclo econômico anual é, antes de mais nada, um ciclo de vida religiosa, que acompanha as diversas atividades de subsistência. A religião é, assim, um dos mais importantes fatores de identidade para os Mbyá.

As ciências indígenas também foram tratadas de forma preconceituosa pela sociedade brasileira. Os conhecimentos indígenas foram desprezados e ridicularizados, como se fossem a negação da ciência e da objetividade. O antropólogo Darell Posey explicou que existem índios especialistas em solos, plantas, animais, colheitas, remédios e rituais. Mas tal especialização não impede, no entanto, que qualquer homem ou mulher Kayapó tenha absoluta convicção de que detém os conhecimentos e as habilidades necessárias para sobreviver sozinho na floresta, indefinidamente, o que lhe dá grande segurança. Segundo Posey, “se o conhecimento do índio for levado a sério pela ciência moderna e incorporado aos programas de pesquisa e desenvolvimento, os índios serão valorizados pelo que são: povos engenhosos, inteligentes e práticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na Amazônia. Essa posição cria uma ‘ponte ideológica’ entre culturas que poderia permitir a participação dos povos indígenas, com o respeito e a estima que merecem, na construção de um Brasil moderno”.

O preconceito contra as línguas, as religiões e as ciências produzidas pelos índios alcançou também as artes, sobretudo a literatura. Os diferentes povos indígenas produziram uma literatura sofisticada, que foi menosprezada porque as línguas indígenas eram ágrafas (não possuíam escrita) e essa literatura foi passada de geração em geração através da tradição oral. As várias formas de narrativa e de poesia indígenas, por isso, não são consideradas como parte da história da literatura nacional, nem ensinadas nas escolas, tampouco reconhecidas e valorizadas pela mídia.

No século passado e no início deste século, vários estudiosos recolheram, no Pará e no Amazonas, literatura oral de primeiríssima qualidade. Um deles foi o general Couto de Magalhães, que não era militar mas advogado e político mineiro, que recebeu a patente de general porque, quando era presidente da província do Mato Grosso, comandou as tropas brasileiras na guerra do Paraguai. Como se sabe, o Império do Brasil se compunha de províncias e não de estados, e quem as governava tinha o cargo de presidente e não de governador. Pois bem, Couto Magalhães foi presidente de Mato Grosso, São Paulo e Pará. Ele não tinha, em princípio, qualquer motivo para simpatizar com os índios e compartilhava de todos os preconceitos de que falamos. No entanto, quando viajou ao Pará, no barco ouviu um índio contanto histórias, durante horas, para uma platéia atenta de tripulantes, que ria e participava ativamente. Curioso, Couto de Magalhães se aproximou e ouviu que falavam uma língua que não entendia: o nheengatu. Decidiu então aprender essa língua, só para conhecer as histórias. Ficou apaixonado com a beleza da literatura indígena, equiparando-a à grega. Recolheu e registrou muitas histórias, como aquelas que têm por personagem o Jabuti. Essas narrativas tinham na verdade a função educativa de transmitir valores e formas de comportamento. Couto de Magalhães comentou, em inteligente observação, que um povo cuja literatura tem um personagem como o Jabuti, lento e feio, que consegue vencer animais belos e fortes como a onça e o jacaré, só usando a astúcia, é um povo que tem civilização “para dar e vender”. “Um vomo que ensina que a inteligência vence a força, é um povo altamente civilizado, é um povo altamente sofisticado”, afirma.

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Muitos recolheram narrativas que, talvez agora, com a recente legislação (Lei n° 11.645, de 10/03/2008, incluindo no currículo oficial de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”) possam chegar aos estudantes e à população brasileira, permitindo que não ignorem mais esse patrimônio cultural da humanidade – a literatura indígena.

3° EQUÍVOCO – CULTURAS CONGELADAS
O terceiro equívoco é a idéia do “CONGELAMENTO” das culturas indígenas. Criou-se para a maioria dos brasileiros a imagem de como deveria ser o índio: nu ou de tanga, no meio da floresta, de arco e flecha, como descrito por Pero Vaz de Caminha. Essa imagem foi “congelada”, persistindo até hoje. Qualquer mudança nela provoca estranhamento. Quando o índio não se enquadra nessa imagem, vem logo a reação: “Ah! Não é mais índio”. Para essas pessoas, o “índio autêntico” é o da carta de Caminha e não aquele índio de carne e osso que conosco convive, que está hoje no meio de nós.

Para impedir a demarcação de terras indígenas e reforçar preconceitos, diz-se: “esses ai não são mais índios, já estão de calça e camisa, de óculos e relógio, e falando português, não são mais índios”. Cria-se uma nova categoria, desconhecida pela etnologia: o ex-índio! Alias, isso acontece com todos nós. O uso de jeans, tão corrente no Brasil, não foi inventado por nenhum brasileiro. A forma de construir em concreto armado também não é técnica brasileira. A tecnologia do telefone celular e do computador não é brasileira, enfim, toda essa parafernália que usamos – os milhares de itens culturais presentes no nosso cotidiano – não tem necessariamente suas raízes em solo brasileiro.

Então, o brasileiro pode usar coisas produzidas por outros povos – computador, telefone, televisão, relógio, rádio, aparelho de som, luz elétrica, água encanada – e nem por isso deixa de ser brasileiro. Mas o índio, se fizer o mesmo, deixa de ser índio. Quer dizer, nós não concedemos às culturas indígenas aquilo que queremos para a nossa: o direito de entrar em contato com outras culturas e de, como conseqüência, mudar.

4º EQUÍVOCO – OS ÍNDIOS FAZEM PARTE DO PASSADO
O quarto equívoco consiste em pensar que os índios fazem parte apenas do passado do Brasil. Num texto de 1997, sobre biodiversidade, sob a ótica de um índio, Jorge Terena escreveu que uma das consequências mais graves do colonialismo foi justamente taxar de “primitivas” as culturas indígenas, considerando-as como obstáculo à modernidade e ao progresso: “(Eles) vêem a tradição viva como primitiva, porque não segue o paradigma ocidental. Assim, os costumes e as tradições, mesmo sendo adequados para a sobrevivência, deixam de ser considerados como estratégia de futuro, porque são ou estão no passado. Tudo aquilo que não é do âmbito do Ocidente é considerado do passado, desenvolvendo uma noção equivocada em relação aos povos tradicionais, sobre o seu espaço na história”.

Os índios, na verdade, estão encravados no nosso passado, mas integram o Brasil moderno, e não é possível imaginar o Brasil do futuro sem a riqueza das culturas indígenas. Se isto por acaso ocorresse, o país ficaria pobre, muito pobre, e feio, muito feio.
5º EQUÍVOCO – O BRASILEIRO NÃO É ÍNDIO
Por último, o quinto equívoco é o brasileiro não considerar existência do índio na formação de sua identidade. Há 500 anos não existia no planeta Terra o povo brasileiro. Esse povo é novo, foi formado nos últimos cinco séculos com a contribuição, entre outras, de três grandes matrizes: as européias, assim no plural, representadas basicamente pelos português, mas também pelos espanhóis, franceses, italianos, alemães, poloneses, etc.; as africanas, também no plural, da qual participaram diferentes povos como os sudaneses, yorubás, nagôs, gegês, ewes, haussás, bantos e outros tantos. E também as matrizes indígenas, formadas por povos de várias famílias lingüísticas como o tupi, o karib, o aruák, o jê, o tukano e muitos outros.

Depois as migrações de outros povos como os japoneses, os sírio-libaneses, os turcos, vieram enriquecer ainda mais a nossa cultura. No entanto, como os europeus dominaram política e militarmente os demais povos, a tendência do brasileiro, ainda hoje, é se identificar apenas como “vencedor” – o de matriz européia – ignorando as culturas indígenas e africanas. Isso reduz e empobrece o Brasil, porque acaba apresentando aquilo que é apenas uma parte, como se fosse o todo.

O índio, no entanto, permanece vivo dentro de cada um de nós, mesmo que não saibamos disso. Não é uma questão genética, é uma questão cultural. Ao fazermos nossas opções de culinária, música, dança, poesia, de onde saem os critérios de seleção? É ai que afloram as heranças culturais, incluindo as indígenas e as negras.

No entanto, se não vemos o índio e os negros como antepassados, é porque acabamos por assumir a identidade veiculada pela ideologia dominante, que reivindica apenas a matriz européia, que nos deu a base da língua que falamos e marcou inapelavelmente nossa cultura, e da qual temos motivos para nos orgulhar. No entanto, precisamos também conhecer e ter orgulho da contribuição das culturas indígenas e das diferentes culturas africanas que marcaram a nossa forma de ser.

Esses não são os únicos equívocos que cometemos em relação aos nossos índios e a nós mesmos, mas talvez sejam aqueles que mereçam urgentemente ser discutidos e reconsiderados.

Texto de JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE
Coordenador do Programa de Estudo dos Povos Indígenas / UERJ