Na cosmologia dos Povos Indígenas do Oiapoque há dois domínios de morada de seres diversos: Este Mundo, onde estão todos os seres visíveis, e o Outro Mundo, lugar das pessoas invisíveis e localizado sob os rios, lagos, mares, montanhas ou no firmamento. Tais pessoas, chamadas de Karuãna, possuem forma exterior de animais e plantas e são vistas como gente apenas pelos pajés. Estes as descrevem como mulheres e homens muito bonitos, donos de belos paramentos, cantos e grafismos doados aos índios através dos pajés, os únicos capazes de lidar com os Karuãna e de transitar livremente entre os dois Mundos. Todo poder dos pajés provém dos Karuãna a quem se associam a fim de combater as enfermidades provocadas por outros Karuãna. Como retribuição por esse serviço devem oferecer periodicamente aos seus espíritos auxiliares uma grande festa, com muita dança, cantos e caxiri em abundância.
O Turé é realizado com este propósito entre setembro e novembro, quando as chuvas escasseiam. Inicia-se em um fim de tarde com os cantos dos mastros, do caxiri e dos bancos entoados dentro do círculo cerimonial montado para a ocasião, o lakuh, acompanhados de clarinetes que emprestam o nome à festa. Tudo tem um sentido dentro do lakuh e todos eles se referem ao Outro Mundo. O mastro central é por onde descem os Karuãna que chegam pelo ar para participar da festa e são vigiados por Warami, a pomba-Karuãna disposta no topo do mastro. É também onde os Karuãna descansam quando não estão dançando ou bebendo caxiri com seus anfitriões. Os bancos são os próprios Karuãna cujas formas, pinturas e grafismos são sonhados pelos pajés antes do início dos preparativos do ritual. Já os cantos são uma espécie de convite e homenagem às pessoas invisíveis chamadas para participar da grande festa onde dançam e bebem por dois dias homens, mulheres, velhos, jovens e Karuãna.
Imagens e texto retirados do site
http://oiapoque.museudoindio.gov.br/publicacoes/
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